quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Brasil: precisa-se de pensadores estratégicos.

No artigo abaixo, Nassif reclama da falta de centros de pesquisa responsáveis por pensar estrategicamente o futuro do país. Todas as iniciativas mais recentes nesse sentido sofreram pela falta de continuidade e de entrosamento com as instâncias executoras dos projetos.
As iniciativas do MCTI para estimular a cooperação entre instituições de pesquisa e empresas deveriam também contemplar a necessidade de planejamento estratégico para o país. Aparentemente, isso ainda não se tornou prioridade dentro do governo.

Falta visão estratégica ao país

Um dos grandes problemas das políticas públicas brasileira é o da falta de continuidade. Especialmente, o da falta de continuidade dos projetos estruturantes.
Há exceções, como é o caso das políticas sociais, armadas em cima de bases conceituais sólidas.
Em outras áreas, têm continuidade os projetos sob tutela de alguma organização pública específica. É o caso da diplomacia, sob a orientação do Itamaraty. Ou da política de petróleo e gás, sob o guarda-chuva da Petrobras, com seus desdobramentos na área naval. Ou ainda as Forças Armadas e seus institutos militares -  trabalhando sem uma integração maior.
Mas, de uma maneira geral, as pressões da conjuntura é que acabam determinando as prioridades do momento.
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Tudo isso decorre da falta de think tanks, de centros de pensamento estratégicos intrinsecamente ligados ao Estado brasileiro, sem depender dos humores do governo de plantão.
Nos anos 90, apenas a Escola Superior de Guerra arriscava discutir estrategicamente o país, mas ainda dentro das visões compartimentalizada e autárquica tradicionais. Houve alguns ensaios com o Plano de Integração Competitiva, desenvolvido por Julio Mourão no BNDES, que serviu de bússola para as tentativas de abertura programada do governo Collor - atropeladas pela política cambial inaugurada com o Plano Real.
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Depois disso, pouco se avançou. No governo Lula, o presidente incumbiu Luiz Gushiken de montar estudos prospectivos, no âmbito da SAE (Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos).
Montou-se o Brasil em 3 Tempos, uma tentativa de think tank aberto, utilizando a melhor metodologia de planejamento estratégico.
Não vingou. A discussão ficou restrita a especialistas, sem jamais chegar a uma opinião pública ampliada e - pior - sem jamais se ligar ao dia a dia da administração pública.
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Seguiu-se o período Roberto Mangabeira Unger, que adotou outro estilo. Garimpava os projetos inovadores na administração pública e tratava de lhes dar publicidade. Com essa atuação, ajudou a desengavetar muitos projetos ambiciosos.
Saiu Mangabeira, interrompeu-se essa atuação.
Seguiu-se um período em que a SAE limitou-se aos estudos do Ipea - dirigidos por Márcio Pochmann, a melhor cabeça prospectiva do PT.
Depois, passou para o político fluminense Moreira Franco e, agora, com o professor da FGV Marcelo Nery.
Trata-se de um intelectual respeitado, que se tornou um dos melhores avalistas do Bolsa Família - especialmente junto ao pensamento mais conservador da FGV-Rio.
Na SAE, Nery prosseguiu em seus estudos sobre a nova classe média, os novos hábitos. São relevantes, mas não são assuntos estratégicos. No máximo, são insumos para a definição desse pensamento estratégico.
Sem ele, a visão de futuro do governo Dilma fica restrito ao pensamento de Dilma. Se ela sair amanhã, o pensamento vai com ela.
Além disso, o pensamento Dilma focaliza a logística, a educação e/ou inclusão social e a inovação. O país é mais complexo que isso. Mas não há as linhas-mestras de uma visão estratégica integrada para completar sua visão de futuro.

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