A recente criação do novo partido político da Marina Silva e as especulações da mídia impressa e audiovisual sobre os gestos discretos e cifrados de políticos que até pouco tempo atrás pareciam pertencer inequivocamente à base de apoio ao governo federal chamaram a minha atenção para uma peculiaridade do jogo de forças que governa as tomadas de decisão políticas. Se quiserem apresentar-se nas próximas eleições como alternativas para o exercício do poder executivo federal, tanto Eduardo Campos quanto Marina Silva terão que angariar o apoio de diferentes atores sociais em torno de uma proposta de governo que seja um contraste suficientemente claro em relação à proposta da aliança que atualmente governa o país.
Onde eles procurarão esse apoio? Em primeiro lugar, nos atores sociais com maior influência no atual jogo de poder de nossa democracia representativa: políticos profissionais da oposição ou da situação, líderes religiosos, grandes empresários, representações sindicais. E apenas secundariamente na massa dos eleitores cuja decisão de votar em um ou outro candidato será fortemente influenciada pelas campanhas publicitárias dos respectivos candidatos e pela mobilização daqueles atores de maior influência. Simplesmente não é possível criar da noite para o dia novos personagens relevantes no jogo do poder. Na disputa real pelo poder, há que se jogar com o conjunto de forças que o atual momento histórico nos oferece.
Essa parece ser uma clara limitação do nosso sistema de democracia representativa, quando comparada com a varidade de posições capazes de participar do debate público de ideias a respeito das questões consideradas socialmente prementes. A despeito da monótona homogeneidade de pontos de vista que a mídia impressa e audiovisual tende a produzir, é possível encontrar ainda teses significativamente diferentes sobre a maioria dos assuntos. Porém, se Marina Silva - uma vez eleita presidenta do Brasil - quiser responder, por exemplo, à questão sobre a construção ou não de uma nova hidrelétrica na Amazônia, ela se moverá em um campo de forças já bem consolidado, envolvendo interesses nacionais e internarcionais. Se Eduardo Campos - enquanto presidente eleito - tiver que decidir sobre a privatização ou não da Petrobrás, ele o fará sob a forte influência daquele mesmo campo de forças. Trata-se do campo de forças no qual hoje tenta se mover também a atual presidenta, quando se dispõe a enfrentar questões semelhantes. Toda a riqueza de nuances das respostas verbais possíveis a essas questões tende a se decantar em dicotomias bastante grosseiras quando transformadas em ações efetivas. Nem poderia ser de outro modo. Afinal, assim como as ondas são a expressão do conjunto de forças que atuam na movimentação das águas, as ações efetivas são a manifestação concreta desse limitado campo de forças. Forças sociais criadas pelos modos históricos de produção da vida humana e que aprenderam a se reproduzir - sempre com adaptações - dentro do nosso sistema de democracia representativa.
Ao ter que decidir em quem votar, parece-me crucial levar em conta esse fator.
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