segunda-feira, 22 de julho de 2013

Luis Nassif sobre o "jornalismo fastfood"

"Jornalismo fastfood". Ótima expressão do Nassif. Lembro do tempo em que decidi prestar vestibular para jornalismo, sob o pretexto de que era a alternativa mais recompensadora financeiramente e mais valorizada socialmente, diante das outras opções que eu vislumbrava: Letras ou Filosofia.
Como eu era estúpido!! (mas será que deixei de ser?)
Eram tempos de longas greves nas universidades públicas, escassez de recursos, professores cansados, fora FHC, fora FMI. No ano em que entrei no curso, 1998, devo ter tido no máximo três meses de aula.
Rapidamente descobriria que a profissão de jornalista era, entre aquelas exercidas por pessoas com ensino superior, uma das mais precarizadas. Salários baixos, excesso de horas extras não remuneradas, extrema instabilidade no emprego. Poucos dias atrás, ao ler reportagem sobre as condições de trabalho dos jornalistas brasileiros, vi que o quadro geral hoje é ainda pior.
Obviamente há as exceções - e o que engana na imagem social do jornalista é que tais exceções são os exemplos mais visíveis da profissão. Âncoras e apresentadores de TV, colunistas, comentaristas e repórteres investigativos famosos formam a parte mais vistosa de um minúsculo grupo de profissionais que gozam de um bom salário e de uma certa autoridade que lhes abre portas. No entanto, desconfio que mesmo estes pagam um preço bem caro pela função que exercem.
Paulo Henrique Amorim atribui a Delfim Neto a frase que jornalista de economia não é nem uma coisa nem outra. Temo que a observação se aplique facilmente também a outros assuntos comuns no jornalismo como política e cultura. Por que isso acontece?
Creio que o problema não está no contingente de milhares de jovens que todo ano ingressa em cursos de jornalismos espalhados pelo Brasil. Boa parte desses jovens é oriunda de famílias de classe média e me permito presumir que tiveram acesso a educação básica de boa qualidade (ao menos para os padrões brasileiros).
O problema, a meu ver, está na própria ideia de um curso superior de jornalismo. Pois aquilo que só a prática efetiva do jornalismo pode ensinar dificilmente é reprodutível no ambiente da universidade ou faculdade. Por outro lado, uma formação teórica consistente em uma disciplina ou campo do saber, algo que exigiria vários anos de dedicação quase exclusiva, é substituída por um ecletismo de disciplinas introdutórias às mais variadas áreas e que deve caber em quatro anos de formação superior, em nome da meta de formar um(a) jornalista capaz de falar sobre praticamente qualquer assunto relevante. No final das contas, o que resta de saber específico na formação em jornalismo e que, além disso, encontra no ensino superior o ambiente adequado para ser ensinado constitui material para um curso de no máximo dois semestres de duração.
Consequência perniciosa desse estado de coisas: o exercício reiterado de sermos apresentados de maneira introdutória aos mais diversos assuntos para, logo em seguida, sermos instados a "noticiá-los" tende a nos fazer confundir clareza e objetividade do discurso com o apego a clichés e reducionismos simplificadores. Mais uma vez, há honrosas exceções, mas as pessoas que transcendem esse dilema da formação superior em jornalismo não o fazem por causa do curso, mas apesar dele.



O Brasil que existe nos jornais


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Existe um jornalismo fast-food que se limita a seguir todo movimento de manada, a apresentar visões extraordinariamente simplistas da realidade ou a exercitar a opinião (leiga) sobre assuntos da maior profundiade.
Em todos esses casos, valem-se do expediente da "autoridade" - no caso, a possibilidade de sua opinião, por mais primária que seja, saia publicada em jornais de alta circulação ou em jornais de TV.
Esse movimento teve início no pós-redemocratização e está estreitamente ligado ao florescimento dos âncoras de rádio de TV e seus bordões de fácil alcance - tipo "isto é uma vergonha".
Sempre valeu para rádio e TV, mas não tinha espaço entre formadores de opinião - categoria na qual se enquadravam os jornais, antes da deblacle dos últimos anos.
Um dos mais fáceis recursos de marketing consiste em juntar um conjunto de temas negativos para concluir que tudo está negativo - ou o inverso.
Por exemplo, junto a tortura a quatro réus acusados de um crime aqui, com um ato de vandalismo ali, algumas tragédias sanitárias acolá e passo ao leitor a percepção de que aqueles fragmentos de realidade se constituem no todo.
Ora, países, estados, cidades, grandes empresas, são organizações complexas, das quais se pode extrair centenas de exemplos positivos e negativos.
Poderia falar do evento da SBPC em Recife, da euforia dos jovens com a redescoberta da política, da ascensão da nova música brasileira, dos resultados da indústria naval, do trabalho excepcional de ONGs e OSCIPs em parceria com o setor público, da universidade do MST, da recuperação pontual das bolsas e dizer que o país é uma maravilha.
O tal país terminal ou pujante não é o país real: é aquele que existe na cobertura da mídia, na cabeça do jornalista, no cérebro de quem não consegue enxergar além do retrato em branco e preto do momento.
É o marketing da notícia, uma opção que os jornais escolheram para se tornarem irrelevantes junto à opinião pública que conta.

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