quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A crítica de Nassif aos diagnósticos recentes sobre a economia brasileira

Após abrir espaço em seu blog para que economistas do PT e do PSDB escrevessem sobre a situação da economia brasileira e sobre a política adotada pelo governo Dilma, Luis Nassif resume a controvérsia entre os dois lados com uma crítica contundente: o diagnóstico no qual ambos se baseiam é uma explicação completamente sem sentido sobre a baixa taxa de crescimento da indústria. Para Nassif, se o aumento da demanda (aumento do poder de compra dos brasileiros) nos últimos 10 anos não foi acompanhado pelo crescimento da indústria, isso não aconteceu porque os empresários brasileiros tem aversão anormal ao risco. Simplesmente o custo da produção no Brasil não consegue ser competitivo com os produtos importados e, com isso, o aumento da demanda foi absorvido pela importação de bens - sobretudo da China. A situação se agrava atualmente por causa do terrorismo econômico praticado pelos porta-vozes do mercado com a ajuda da falta de jeito do ministro da Fazenda para ocupar o debate público e controlar as expectativas.


Os juros no país da jabuticaba

O Jornal GGN (www.jornalggn.com.br) e o portal iG criaram o Campo Democrático para que os principais partidos políticos possam mostrar sua visão sobre temas relevantes.
No capítulo Política Econômica, intelectuais do PSDB e do PT definiram de forma didática seus diagnósticos e propostas. ( http://glurl.co/c7e)
Tem-se um quadro claro de perda de dinamismo na economia.
Para o Campo de Debates do PSDB, a razão seria excesso de Estado sufocando a iniciativa privada. Para o Campo de Debates do PT, o recuo do Banco Central na política de redução de juros e de monitoramento do câmbio.
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Há um certo tipo diagnóstico  sem pé nem cabeça influenciando análises de ambos os lados: o de que a queda de juros explica a pouca vontade das empresas em investir.
Parte do seguinte raciocínio:
1.    Parte relevante da rentabilidade dos grandes grupos estava nos ganhos financeiros - previsíveis e sem risco.
2.    Quando os juros caíram, houve redução dos lucros e, devido a isso, aumentou a postura defensiva das empresas, que passaram a focar em recuperação da margem de rentabilidade (sem ganhos financeiros) em vez de ampliar os investimentos na produção.
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Por aqui sempre se teve uma análise econômica tão criativa quanto falsa. Mas essa hipótese é recordista de nonsense.
Vamos às motivações do investimento:
1. Análise da TIR (Taxa Interna de Retorno).
Os empresários partem de uma análise custo-benefício para seus investimentos. E o parâmetro utilizado é a taxa básica de juros da economia (no caso brasileiro, a Selic), mais uma taxa de risco, proporcional ao risco do negócio.
Suponha que a taxa de risco seja de 5% ao ano. Se a Selic está em 7%, o empresário bancará todo investimento que ofereça um retorno mínimo previsto de 12% ao ano. Se a Selic vai para 10%, a TIR pulará para o mínimo de 15% ao ano.
É óbvio que - como em qualquer parte do mundo - se aumenta a taxa básica de juros, reduz o leque de alternativas de investimento.
2. Análise de mercado.
Indústrias investem quando o aumento da demanda ocupa sua capacidade instalada. A demanda esperada consiste na demanda total menos a parcela que será atendida pelas importações.
A demanda interna se manteve aquecida e o custo dos investimentos caiu.
Por respeito mínimo à lógica, que se prospectem outros fatores para os investimentos não terem deslanchado: a competição com os importados.
1.    O mercado de consumo manteve o vigor e houve explosão dos importados. Conclusão: o aumento de demanda foi absorvido pelas importações. Obviamente a redução de juros e a melhoria do câmbio não foram suficientes para tornar competitiva a indústria nacional em comparação com a externa - especialmente a chinesa.
2.    Aumentaram as incertezas na em função do aumento da inflação e das dúvidas sobre a questão fiscal. Em ambos os casos, não havia motivos para pânico. A inflação foi fruto de pressões externas nos preços das commodities e a questão fiscal resultado das trapalhadas da Fazenda e da Secretaria do Tesouro. Nada que comprometesse a economia. Mas o discurso falho do Ministro da Fazenda Guido Mantega permitiu que de uma pequena fogueira quase lavrasse um incêndio.

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