Questões relevantes para nós: como o Brasil deve lidar com esse possível cenário? Quais são as projeções atuais das condições de nossa economia daqui a cinco anos?
Itália e França são os reais perigos na Zona do Euro
Enviado por luisnassif, dom, 21/04/2013 - 07:21
De O Globo
Günter Hannich defende que pacotes da UE são paliativos, que só adiam o colapso e uma grande crise
GRAÇA MAGALHÃES-RUETHER, CORRESPONDENTE
BERLIM - A impossibilidade de desvalorizar o câmbio impede o aumento da competitividade na economia francesa, uma armadilha criada pela própria França por receio do poderio da Alemanha, diz o economista alemão Günter Hannich. Apesar dos pacotes de resgate, a crise do euro continua ameaçando explodir de novo a qualquer hora. Segundo Hannich, autor do livro “A próxima catástrofe do euro, um sistema financeiro diante do colapso” (numa tradução livre para o português), é preciso ficar atento às advertências do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre a situação fiscal da França.
— A crise está pior agora do que quando começou — disse, lembrando que, se a crise estourar na Itália e na França, nem o Banco Central Europeu (BCE) resolveria o problema.
O agravamento da crise nestes dois países arrastaria a Alemanha, e o euro encontraria o seu fim de forma espetacular, causando uma grande destruição de capital, com efeitos também para a economia global.
Segundo o economista de 45 anos, a única medida viável para evitar o pior é o aumento da competitividade dos países em crise. Como não podem desvalorizar mais a moeda, teriam de reduzir preços e salários, enquanto a Alemanha teria de aceitar aumentos salariais.
Como o senhor vê a advertência do FMI em relação à França?
Ao contrário da Grécia e do Chipre, os problemas da França são uma ameaça real ao euro, porque a segunda economia do grupo é grande demais para ser resgatada. Os problemas são a perda de competitividade e o excesso de endividamento dos bancos — a dívida é calculada em € 7,9 trilhões. Se a crise estourar na França, serão necessários confiscos, como no Chipre, com um efeito dramático de perda de confiança no euro.
A França é o principal parceiro comercial da Alemanha. Por que os dois países têm situação desigual?
A França tem um problema parecido com o da Espanha e da Itália, embora menos grave. A economia está perdendo em competitividade e o governo não é capaz ou não quer tomar as medidas necessárias. Antigamente, a economia francesa era forte e, quando havia problemas de competitividade, o franco era desvalorizado e, com isso, era restabelecido o equilíbrio. Com o euro, que foi criado principalmente por iniciativa de François Mitterrand, o governo perdeu esse instrumento.
Quer dizer que a decisão de criar o euro foi um erro?
Um erro histórico. O então chanceler alemão Helmut Kohl queria uma união monetária, mas que ocorreria após um processo longo de unificação política. Mas os franceses, que receavam o excesso de poderio econômico da Alemanha, colocaram a criação do euro como uma condição para a reunificação alemã. O que Mitterrand não viu foi que com o euro a economia do seu país ficou em desvantagem.
Por quê?
Porque os países do euro são diferentes. A Alemanha, que já era mais forte, ganhou mais competitividade após um período de 20 anos de arrocho salarial. Além disso, foi criado um setor de salários baixos. Pessoas sem grande qualificação começaram a ganhar muito menos, o que resultou no aumento da competitividade e levou a recordes de exportações. Antes, qualquer emprego dava dinheiro bastante para o sustento de uma família. Hoje muitas pessoas precisam de dois ou três empregos.
Por que a Alemanha não eleva os salários para ter mais equilíbrio?
As grandes empresas fazem lobby. A política econômica alemã foca mais nas exportações que no aumento do consumo interno. Um estudo do BC alemão revela que os alemães têm hoje uma riqueza per capita menor do que o dos países do sul da Europa. Cada alemão tem € 51.400, em média, levando em consideração todas as suas posses, e o francês tem € 113.500. Isso porque só 44% dos alemães têm um imóvel, que é o que mais pesa na riqueza privada.
Como o senhor vê a política da UE de combate à crise?
Tratam-se de medidas paliativas que só adiam o colapso do euro. Fala-se em “resgate”, mas os países não foram salvos. A Grécia teve parte da dívida cortada e investidores perderam dinheiro, mas o país tem situação pior do que no início da crise. Os pacotes de ajuda são como a tentativa de curar uma doença com uma aspirina, apenas aliviar os sintomas, sem a cura da enfermidade propriamente dita. A doença da Grécia é ter que competir com a Alemanha, o que nunca conseguirá sem o instrumento da desvalorização cambial.
No seu livro, o senhor fala sobre a próxima catástrofe do euro.
A expectativa de vida do euro é de, no máximo, cinco anos. A política de resgate, com custos cada vez mais altos, acabará encontrando seus limites. A relação entre a dívida e o PIB, em certos casos, passou de 100%. Quando um país for forçado a deixar o euro e com isso desencadear uma reação em cadeia, passam a valer as garantias dadas pelo Fundo de Estabilidade do Euro. A Alemanha, que teria de arcar com cerca de € 1,5 trilhão a € 2 trilhões, o que significaria assumir de uma vez uma dívida igual ao endividamento que já tem, que é de cerca de € 2 trilhões, entraria em grandes dificuldades. O fim do euro não seria o fim de uma associação, mas um colapso capaz de causar uma grande crise econômica. Foi este receio que fez o maior fundo de investimentos de títulos estatais, Pimco, reduzir negócios em euro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário