sábado, 20 de abril de 2013

Os meios de comunicação e sua dependência dos clichês

Clichês são opiniões ou imagens estereotipadas a respeito de pessoas, lugares ou acontecimentos. Eles se constroem ao longo do tempo e decantam-se sorrateiramente nas mentes da pessoas. São, por definição, falsidades, mas costumam ser muito eficazes na determinação de nossas condutas. Sua eficácia deriva, em parte, de nossa tendência geral a seguir a "lei do menor esforço" e em parte dos fragmentos de verdade que os compõem.
A pretexto do compromisso de informar o público de modo objetivo, suscinto e compreensível, os meios de comunicação tendem a formar e reforçar clichês, criando assim a estranha impressão de que, apesar da avalanche de novas informações com que eles nos inundam 24 horas por dia, parece quase sempre tratar-se de mais do mesmo.
Essa impressão induz o leitor, ouvinte ou telespectador a uma espécie de letargia diante da história humana, contada ao modo das mídias. Uma letargia que se alimenta de um empobrecimento, provocado pelos clichês, da nossa capacidade de compreensão dos fatos. Afinal, qualquer interpretação satisfatória dos fenômenos humanos depende, por um lado, do conhecimento das histórias a respeito do que ensejou esses fenômenos e, por outro lado, das estimativas sobre a possível influência desses fenômenos no desenrolar dos acontecimentos futuros. Ora, os clichês oferecem imagens pobres diante do passado e rígidas diante do futuro: pobres porque simplificadas além da medida e rígidas porque resistentes a qualquer mudança que os eventos futuros possam provocar nelas.
Se o diálogo racional e produtivo entre seres humanos depende do exercício de nossa capacidade de compreender adequadamente os acontecimentos, um exercício que exige grande investimento cognitivo e emocional de nossa parte, a mídia e sua dependência crônica dos clichês cria então mais obstáculos àquele tipo de diálogo, ao nos estimular a continuarmos abraçados a nossas amadas crenças irrefletidas. Eis a maneira como ela contribui para a formação de indivíduos incapazes de dialogar com os outros.

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