quinta-feira, 20 de março de 2014

Os projetos econômicos em jogo na próxima eleição

Artigo de Saul Leblon, "Quem vai Mover as Turbinas do Brasil?", comenta a proposta de Edmar Bacha, economista conselheiro do candidato do PSDB à Presidência da República, para resolver no médio e longo prazo o problema da desindustrialização da economia brasileira.
O artigo indica de modo didático o ponto crucial que hoje divide a esquerda e a direita brasileiras nas decisões sobre política econômica. Eu resumiria a divergência estratégica da seguinte maneira: fortalecer a economia brasileira a partir "de fora" ou a partir "de dentro". De fora, segundo a direita liberal, com a abertura da economia brasileira para o mercado externo, com desvalorização do câmbio e arrocho salarial para diminuir os custos de produção. De dentro, segundo a esquerda desenvolvimentista, com o uso das ferramentas do Estado para incentivar o aumento de produtividade e competitividade da indústria nacional, com isenções tributárias, financiamentos à produção e à compra que privilegiem produtos com conteúdo nacional.
Leblon claramente prefere a opção pela esquerda. Argumenta que o diagnóstico direitista aposta na quimera liberal dos benefícios do livre mercado, mas essa solução possui graves efeitos colaterais geralmente escamoteados como, por exemplo, aumento das desigualdades sociais e a perda de conteúdo nacional na produção industrial.

quarta-feira, 5 de março de 2014

1964 e 2014: as semelhanças que não são meras coincidências

Excelente análise de Luis Nassif sobre o jogo de poder em ambiente de democracia burguesa. Duas premissas fundamentam sua reflexão: por um lado, regimes políticos desse tipo tendem a fomentar processos de inclusão social cada vez mais amplos, pois enquanto a maioria dos votos pertence aos excluídos sociais, o personagem político (uma pessoa específica ou aliança partidária) que melhor souber exprimir os anseios dessa maioria tende a sair vitorioso da eleição e tentará atender de algum modo as expectativas que angariou. Por outro lado, esse movimento de inclusão social tende a gerar insegurança naquela parcela já socialmente estabelecida. Nassif dividi-a entre aqueles que temem perder status (classe média, profissionais liberais, burocratas) e aqueles que temem perder poder (alta gerência da burocracia, empresários influentes, grandes grupos de mídia). Naturalmente, essa parcela insegura está mais sujeita à propaganda do medo, do caos, da instabilidade política, constantemente explorada pela grande mídia.
O resultado de tudo isso é uma espiral de tensão social cujo desfecho dependerá da maneira como o governo reage à pressão dos protestos e de quem consegue vencer a guerra de opinião. Informar e persuadir em larga escala tornam-se assim as principais habilidades exigidas do governo e da oposição.