quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Outro xadrez do Nassif sobre o futuro do Brasil e sobre o desafio atual

A noção de cidadania sempre teve dificuldades imensas de penetrar nas práticas sociais, tanto institucionais quanto informais, no Brasil. Embora presente na Constituição de 1988 de forma marcante, ao ponto dela ser conhecida pela alcunha de "Constituição Cidadã", os artigos que mencionam o papel do Estado na garantia dos direitos individuais e sociais parecem-se, ainda hoje, mais com meras declarações de princípio do que com leis em efetivo vigor. Constato, com pesar, que o descaso com a noção de cidadania e a incapacidade de orientar posicionamentos políticos a partir dela revela-se um problema compartilhado, em grande medida, pelas forças políticas de esquerda e de direita.


Funcionários públicos extremamente engajados no debate político e defensores das bandeiras de esquerda são, muitas vezes, os mesmos que, em seus cotidianos de trabalho, prestam péssimos serviços e, com esse comportamento, revelam descaso com seu papel institucional de garantidor do usufruto de direitos pelos cidadãos que necessitam dos seus serviços. Sindicatos de servidores das instituições públicas de ensino superior não hesitam em contratar potentes carros de som para circular pelos campi universitários durante os períodos de aula, sabendo que a altura do som irá atrapalhar os docentes e discentes, irá prejudicar os direitos e deveres cidadãos de ambos.
A direita liberal tampouco parece capaz de vincular, dentro do contexto social brasileiro, suas posições políticas com a tradição de defesa dos direitos individuais que constitui a origem da história da cidadania. Os porta-vozes dessa banda do espectro político fazem apologia da livre iniciativa, mas não perdem a ocasião de respaldar a falta da pluralidade do debate público, oriunda do forte oligopólio midiático, nem conseguem modular seu apego doutrinal às ideias básicas do liberalismo em vista da quantidade expressiva de brasileiros e brasileiras condenados a viver indefinidamente à margem da sociedade de consumo e incapazes de exercer atividade produtiva de alto valor agregado.
A consequência disso é que atualmente o Brasil descobre-se terreno fértil para a consolidação de um estado de exceção. Segundo Nassif, essa é a luta mais urgente a ser travada: salvar o país da ameaça do autoritarismo e da negação da cidadania.

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